quinta-feira, 30 de junho de 2016

O QUE VOCÊ CONHECE E ACHA DAS CRENDICES?

Veja o que esse Servo de Deus fala à respeito.

Amuletos que são usados para falsas crendices.

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Servo de Deus, Rev. Pe. Júlio Maria de Lombaerde
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Em nossa época, muitos não querem mais acreditar nos ensinos da Igreja,.
Dizendo que não têm fé ou que perderam a fé. De fato, pode perder-se a fé…
Fé e Moral são duas irmãs gêmeas, tão intimamente ligadas, que a morte de uma produz a morte da outra. Muitos perdem a fé, porque perderam a moral.
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Procurem readquirir a moral, e a fé surgirá luminosa, como surge o sol luminoso quando se dissipam as nuvens.
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A fé é um sol na vida… A libertinagem é uma nuvem pesada, asfixiante, ameaçadora. Todos os homens têm fé, mas todos não têm uma fé divina.
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Coisa curiosa: à medida que a fé divina se apaga, a crendice humana cresce. E hoje, a tal crendice humana chegou ao inverossímil.
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Bradam com ares de superioridade e emancipação os modernos sábios e materialistas, que não acreditam mais em Deus…
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Não acreditam mais em Deus, mas por uma degradação vergonhosa acreditam:
Nas fraudes dos médiuns. Nas caretas dos histéricos. Nas ervas das macumbas. Nos passes dos catimbós. Nas rezas dos feiticeiros. No sangue das galinhas pretas. Nos fluidos das sessões. Nos pandeiros dos canjerês. Nas chibatas dos pretos velhos. Na homeopatia de espíritas. Nas sugestões do curandeiro Mozart. Na ciência dos fakirs. Nas tolices de Allan Kardec. No charlatanismo dos defuntos. Nos truques dos pseudo-prestidigitadores. Nos cabelos queimados misturados em bebidas. Nos sapos postos sob a soleiras das casas. Nos pedaços de vela, folhas de alecrim e farofa de fubá, colocada nas encruzilhadas. Nos morcegos, corujas e aranhas pretas. Na desgraça do número 13… etc, etc. .
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Estes homens emancipados acreditam em tudo isso, mas não acreditam mais em Deus.
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Pobre gente! Não são incrédulos, são ignorantes, viciados… e só creem na lama e no gozo da carne.
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É para estes que Deus manda as terríveis profecias e revelações que hão de seguir.
Se tais revelações proviessem de qualquer macumbeiro, vidente ou histérico, eles acreditariam logo, mas agora vêm de homens santos, de homens de Deus…
E estes talvez não mereçam mais fé, para eles, do que o próprio Deus.
Quem sabe entretanto…!
Deus é tão bom…Talvez permita Ele que os olhos dos cegos se abram, que a inteligência dos emancipados compreenda  que com Deus não se brinca.
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Fonte: Retirado do livro “O fim do mundo está próximo?” do Rev. Pe. Júlio Maria de Lombaerde.

LITURGIA DIÁRIA - O PARALÍTICO E SEUS AMIGOS

 
1a Leitura - Amós 7,10-17
Leitura da profecia de Amós.
7 10 Amasias, sacerdote de Betel, mandou dizer a Jeroboão, rei de Israel: “Amós conspira contra ti no meio dos israelitas. A terra não pode mais suportar os seus discursos.
11 Ele diz que Jeroboão perecerá pela espada e que Israel será deportado para longe de seu país!”
12 Amasias disse a Amós: “Vai-te daqui, vidente, vai para a terra de Judá e ganha lá o teu pão, profetizando.
13 Mas não continues a profetizar em Betel, porque aqui é o santuário do rei, uma residência real”.
14 Amós respondeu a Amasias: “Eu não sou profeta nem filho de profeta. Sou pastor e cultivador de sicômoros.
15 O Senhor tomou-me de detrás do meu rebanho e disse-me: ‘Vai e profetiza contra o meu povo de Israel’”.
16 Ouve, pois, agora, a palavra do Senhor: “‘Tu me dizes: ‘Não profetizarás contra Israel, não falarás contra a casa de Isaac’.
17 Pois bem! Eis o que diz o Senhor: ‘tua mulher será violada em plena cidade, teus filhos e tuas filhas cairão sob a espada, teu campo será repartido a cordel; quanto a ti, morrerás numa terra impura, e Israel será deportado para longe de seu país’”.
Palavra do Senhor.
 

Salmo - 18/19
Os julgamentos do Senhor são corretos
e justos igualmente.
A lei do Senhor Deus é perfeita,
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,
sabedoria dos humildes.

Os preceitos do Senhor são precisos,
alegria ao coração.
o mandamento do Senhor é brilhante,
para os olhos é uma luz.

É puro o temor do Senhor,
imutável para sempre.
os julgamentos do Senhor são corretos
e justos igualmente.

Mais desejáveis do que o ouro são eles,
do que o ouro refinado.
suas palavras são mais doces que o mel,
que o mel que sai dos favos.
 

Evangelho - Mateus 9,1-8
Aleluia, aleluia, aleluia.
Em Cristo, Deus reconciliou consigo mesmo a humanidade; e a nós ele entregou essa reconciliação (2cor 5,19).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
9 1 Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua cidade.
2 Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: "Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados."
3 Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem blasfema."
4 Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por que pensais mal em vossos corações?
5 Que é mais fácil dizer: ‘Teus pecados te são perdoados’, ou: ‘Levanta-te e anda?’
6 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te - disse ele ao paralítico -, toma a tua maca e volta para tua casa."
7 Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.
8 Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

O pecado é quem nos paralisa e nos faz enfermos. Quando curou aquele paralítico perdoando-lhe os pecados, Jesus tinha consciência disso. Ele sabia que a Sua Missão aqui no mundo era nos libertar do pecado e de toda obra do inimigo, concedendo a vida eterna não somente para depois da nossa morte, mas desde já, enquanto estamos no nosso corpo. Ele veio curar a nossa paralisia, a nossa indisposição para enfrentar as dificuldades da nossa vida que é uma decorrência do pecado que nos escraviza.     Na verdade, Jesus já nos libertou do pecado para que possamos viver uma vida harmoniosa com o Pai, conosco mesmo e com aqueles que são da nossa convivência. Por isso, somente Jesus ainda é hoje, Aquele que tem poder para nos curar, salvar e libertar de todas as nossas iniquidades. Ele hoje também conta com cada um de nós para levar até Ele os que, paralisados pelo pecado, estão acomodados na sua vidinha vazia, por isso, se tornaram desiludidos e sem esperança.  Entretanto Jesus nos cura para que possamos tomar decisões e cumprir com os compromissos os quais precisam ser assumidos. Neste Evangelho, Jesus depois de perdoar os pecados e de curar o paralítico recomendou: “Levanta-te, pega a tua cama e vai para a tua casa”. Por que para casa? Porque é na nossa casa, na nossa família que temos de experimentar primeiro a vida nova que Jesus veio nos dar. Dentro de casa é que começa a obra de Salvação que o Senhor preparou para nós. É lá que fazemos o primeiro teste nos nossos relacionamentos. É lá que começamos a viver o reino dos céus aqui na terra, quando aprendemos a perdoar, a compreender, a partilhar, a dialogar e, principalmente, a exercitar a oração em comum e regar a nossa fé. A nossa fé também será como uma maca que servirá de meio de transporte para os que precisam ser curados por Jesus. – Quem é você hoje: o paralítico ou o amigo do paralítico? - Qual é a sua paralisia? – Ela é consequência de algum pecado de estimação, de algum vício, de algum mau hábito. –  Você tem apresentado a Jesus alguém que precisa de cura? – Como são os seus relacionamentos em casa? 






Helena Serpa

quarta-feira, 29 de junho de 2016

CRISTO, SEGUNDO ADÃO, RECAPITULA TODAS AS GETAÇÕES.

Em uma época como a nossa, que tende a ressuscitar erros antigos, nada como recordar a verdade da humanidade de Cristo, sem a qual se torna inútil toda a obra de nossa salvação.


Neste dia em que a Igreja celebra a memória de Santo Irineu de Lião, bispo e mártir († 202 d.C.), disponibilizamos abaixo um trecho de sua famosa obra Adversus haereses ("Contra as heresias"), no qual ele fala da recapitulação de todos homens em Cristo.
Em uma época como a nossa, que tende a ressuscitar erros antigos (lembremos que Santo Irineu se dirigia aos gnósticos, e essa heresia está longe de ser uma coisa do passado), nada como recordar a verdade da humanidade de Cristo, sem a qual se torna inútil toda a obra de nossa salvação. "Se não se fez o que nós éramos", diz Santo Irineu, "não tinha importância nem valor o que ele sofreu e padeceu".
No excerto a seguir, também temos um relato importante acerca do papel de Maria na redenção. "O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria", escreve o santo, "e o que Eva amarrara pela sua incredulidade Maria soltou pela sua fé". Como se trata de um escrito ainda do segundo século da Igreja, o que temos abaixo é um forte testemunho de que a devoção a Nossa Senhora por parte dos cristãos tem origem nos primórdios da Igreja — e não em uma suposta "distorção pagã" do Evangelho pelos romanos.
É uma grande alegria ler textos como este, que nos colocam em contato com nossos primeiros pais na fé. Não deixem de apreciar e de repassar esta preciosidade:
Cristo, segundo Adão, recapitula todas as gerações

Ele recapitulou também em si a obra modelada no princípio.

Como pela desobediência de um só homem o pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte, assim pela obediência de um só homem foi introduzida a justiça que traz como fruto a vida ao homem morto. E como a substância de Adão, o primeiro homem plasmado, foi tirada da terra simples e ainda virgem — "Deus ainda não fizera chover e o homem ainda não a trabalhara" (Gn 2, 5) — e foi modelado pela mão de Deus, isto é, pelo Verbo de Deus — com efeito, "todas as coisas foram feitas por ele", e o "Senhor tomou do lodo da terra e modelou o homem" (Gn 2, 7) —, assim o Verbo que recapitula em si Adão, recebeu de Maria, ainda virgem, a geração da recapitulação de Adão.

Se o primeiro Adão tivesse homem por pai e tivesse nascido de sêmen viril teriam razão em dizer que também o segundo Adão foi gerado por José. Mas se o primeiro Adão foi tirado da terra e modelado pelo Verbo de Deus, era necessário que este mesmo Verbo, efetuando em si a recapitulação de Adão, tivesse geração semelhante à dele. E, então, por que Deus não tomou outra vez do limo da terra, mas quis que esta modelagem fosse feita por Maria? Para que não houvesse segunda obra modelada e para que não fosse obra modelada diferente da que era salvada, mas, conservando a semelhança, fosse aquela primeira a ser recapitulada.

Erram, portanto, os que sustentam que o Cristo nada recebeu da Virgem, para poder rejeitar a herança da carne; mas rejeitam assim, ao mesmo tempo, a semelhança. Com efeito, se aquele primeiro recebeu a sua modelagem e substância da terra pela mão e arte de Deus e este não, então não conservou a semelhança com o homem que foi feito à imagem e semelhança de Deus, e o Artífice pareceria inconstante e sem nada que demonstre a sua sabedoria. Isto quer dizer que ele apareceu como homem sem sê-lo realmente e que se fez homem sem tomar nada do homem!

Mas se não recebeu de nenhum ser humano a substância da sua carne, ele não se fez nem homem, nem Filho do homem. E se não se fez o que nós éramos, não tinha importância nem valor o que ele sofreu e padeceu. Ora, não há quem não admita que nós somos feitos de corpo tirado da terra e de alma que recebe de Deus o Espírito. E é isso que se tornou o Verbo de Deus ao recapitular em si mesmo a obra por ele plasmada, e é este o motivo pelo qual se declara Filho do homem e declara bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Por seu lado, o apóstolo Paulo, na carta aos Gálatas, disse abertamente: "Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher" (Gl 4, 4); e na carta aos romanos diz: "... acerca do seu Filho, que nasceu da posteridade de Davi, segundo a carne, declarado Filho de Deus, com poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso" (Rm 1, 3-4).

De outra forma, a sua descida em Maria seria supérflua; pois para que desceria nela se não devia receber nada dela? Se não tivesse recebido nada de Maria então nunca teria tomado alimentos terrenos com os quais se alimenta um corpo tirado da terra; após o jejum de quarenta dias, como Moisés e Elias, seu corpo não teria experimentado a fome e não teria procurado alimento. João, seu discípulo, não teria escrito: "Jesus, cansado pela caminhada, estava sentado" (Jo 4, 6); nem Davi teria dito dele: "E acrescentaram sofrimento à dor das minhas feridas" (Sl 69, 27); não teria chorado sobre o túmulo de Lázaro; não suaria gotas de sangue, nem teria dito: "A minha alma está triste" (Mt 26, 38); e de seu lado transpassado não teriam saído sangue e água. Tudo isso são sinais da carne tirada da terra, que recapitulou em si, salvando a obra de suas mãos.

Por isso Lucas apresenta genealogia de setenta e duas gerações, que vai do nascimento do Senhor até Adão, unindo o fim ao princípio, para dar a entender que o Senhor é o que recapitulou em si mesmo todas as nações dispersas desde Adão, todas as línguas e gerações dos homens, inclusive Adão. Por isso Paulo chama Adão figura do que devia vir, porque o Verbo, Criador de todas as coisas, prefigurara nele a futura economia da humanidade de que se revestiria o Filho de Deus, pelo fato de Deus, formando o homem psíquico, ter dado a entender que seria salvo pelo homem espiritual. Por isso, visto que já existia como salvador, devia tornar-se quem devia ser salvo, para não ser o Salvador de nada.

Da mesma forma, encontramos Maria, a Virgem obediente, que diz: "Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra", e, em contraste, Eva, que desobedeceu quando ainda era virgem. Como esta, ainda virgem se bem que casada — no paraíso estavam nus e não se envergonhavam, porque, criados há pouco tempo ainda não pensavam em gerar filhos, sendo necessário que, primeiro, se tornassem adultos antes de se multiplicar —, pela sua desobediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da morte, assim Maria, tendo por esposo quem lhe fora predestinado e sendo virgem, pela sua obediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da salvação. É por isso que a Lei chama a que é noiva, se ainda virgem, de esposa daquele que a tomou por noiva, para indicar o influxo que se opera de Maria sobre Eva. Com efeito, o que está amarrado não pode ser desamarrado, a menos que se desatem os nós em sentido contrário ao que foram dados, e os primeiros são desfeitos depois dos segundos e estes, por sua vez, permitem que se desfaçam os primeiros: acontece que o primeiro é desfeito pelo segundo e o segundo é desfeito em primeiro lugar.

Eis por que o Senhor dizia que os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros. E o profeta diz a mesma coisa: Em lugar dos pais nasceram filhos para ti. Com efeito, o Senhor, o primogênito dos mortos, reuniu no seu seio os patriarcas antigos e os regenerou para a vida de Deus, tornando-se ele próprio o primeiro dos viventes, ao passo que Adão fora o primeiro dos que morrem. Eis por que Lucas, iniciando a genealogia a partir do Senhor subiu até Adão, porque não foram aqueles antepassados que lhe deram a vida, e sim foi ele que os fez renascer no evangelho da vida. Da mesma forma, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, e o que Eva amarrara pela sua incredulidade Maria soltou pela sua fé.








IRINEU DE LIÃO. Contra as heresias (III, 21, 9-22 [PG 7, 954-960]). São Paulo: Paulus, 2013, pp. 349-352.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere

LITURGIA DIARIA - O QUE TENS A VER CONOSCO, FILHO DE DEUS?

1a Leitura - Amós 5,14-15.21-24
Leitura da profecia de Amós.
5 14 Buscai o bem e não o mal, e vivereis; e o Senhor Deus dos exércitos estará convosco, como o dizeis.
15 Detestai o mal, amai o bem, fazei reinar a justiça nas vossas assembléias; talvez então o Senhor, o Deus dos exércitos, tenha piedade do que resta de José!
21 “Aborreço vossas festas; elas me desgostam; não sinto gosto algum em vossos cultos;
22 quando me ofereceis holocaustos e ofertas, não encontro neles prazer algum, e não faço caso de vossos sacrifícios e animais cevados.
23 Longe de mim o ruído de vossos cânticos, não quero mais ouvir a música de vossas harpas;
24 mas, antes, que jorre a eqüidade como uma fonte e a justiça como torrente que não seca”.
Palavra do Senhor.


Salmo - 49/50
A todos os que procedem retamente

eu mostrarei a salvação que vem de Deus.

 
“Escuta, ó meu povo, eu vou falar;

ouve, Israel, eu testemunho contra ti:

eu, o Senhor, somente eu, sou o teu Deus!

 
Eu não venho censurar teus sacrifícios,

pois sempre estão perante mim teus holocaustos;

não preciso dos novilhos de tua casa

nem dos carneiros que estão nos teus rebanhos.

Porque as feras da floresta me pertencem

e os animais que estão nos montes aos milhares.

Conheço os pássaros que voam pelos céus

e os seres vivos que se movem pelos campos.

 
Evangelho - Mateus 8,28-34
Aleluia, aleluia, aleluia.
Deus nos gerou pela palavra da verdade como as primícias de suas criaturas (Tg 1,18).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
8 28 No outro lado do lago, na terra dos gadarenos, dois possessos de demônios saíram de um cemitério e vieram ao encontro de Jesus. Eram tão furiosos que pessoa alguma ousava passar por ali.
29 Eis que se puseram a gritar: “Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?”
30 Havia, não longe dali, uma grande manada de porcos que pastava.
31 Os demônios imploraram a Jesus: “Se nos expulsas, envia-nos para aquela manada de porcos”.
32 “Ide”, disse-lhes. Eles saíram e entraram nos porcos. Nesse instante toda a manada se precipitou pelo declive escarpado para o lago, e morreu nas águas.
33 Os guardas fugiram e foram contar na cidade o que se tinha passado e o sucedido com os endemoninhados.
34 Então a população saiu ao encontro de Jesus. Quando o viu, suplicou-lhe que deixasse aquela região.
Palavra da Salvação.

  
Reflexão

Mais uma vez, Mateus retoma uma história do Evangelho de Marcos (Mc 5, 1-20), contando-a de modo mais sintético. Por exemplo, ao falar dos porcos, refere uma grande vara, e não de cerca de dois mil porcos, como diz Marcos (5, 2ss.). Mas também amplia pormenores. Por exemplo, em vez de um possesso, como faz Marcos, fala de dois.
Fundamentalmente, a cena pretende descrever um encontro de Jesus com os pagãos, dominados pelas forças do mal, como já aconteceu no episódio do centurião (Mt 8, 1-17). Mas, enquanto o centurião acreditou e aceitou Jesus, os habitantes de Gádara não crêem e rejeitam-no.
A imagem dos «sepulcros», a força de Jesus diante dos demónios e a sua «fraqueza» diante dos homens faz desta cena o claro reflexo de uma meditação sobre a paixão, incluindo a rejeição pelos homens, bem expressa no pedido dos gadarenos para que Jesus se retire da sua cidade. A expressão «antes do tempo» (v. 29) também indica a relação desta cena com a paixão, quando Jesus, ainda que expulso da cidade santa, irá vencer sobre a força negativa da morte, da dispersão da Igreja, abrindo passagem para que fosse possível «passar por aquele caminho» (v. 28). O poder de Jesus só se revela no mistério insondável da cruz.

A tendência para separar o culto da vida é bastante espontânea. Facilmente se organizam belas festas, pensando que elas agradam a Deus, enquanto se vive de modo egoísta, procurando obter proveito mesmo à custa dos outros, da verdade e da justiça. Os profetas nunca aceitaram esta separação entre o culto e vida real. Deus exige coerência entre o culto e a vida. Na primeira leitura, Amós denúncia o culto meramente exterior, sem coerência de vida. Proclama Amós, fazendo-se arauto de Deus: «Detesto e rejeito as vossas festas; e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias… Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca» (vv. 22.24). Isaías e Jeremias vão na mesma linha. O culto que Deus exige de nós é uma vida em consonância com a sua vontade, com a sua justiça, com a sua generosidade. Se assim não for, de nada servem cerimónias pomposas: «Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, não quero ouvir mais a música das vossas harpas» (v. 23). O importante é buscar «o bem e não o mal» (v. 14). 
Também o culto cristão não se pode limitar “a assistir” passivamente à Eucaristia, ou a participar em qualquer outra celebração religiosa. O cristão há-de participar na celebração da Eucaristia acolhendo o dinamismo posto em acção por Jesus na Última Ceia: «Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo» (Jo 13, 1). A Eucaristia encerra um extraordinário dinamismo de amor. Não faz sentido ir à missa sem se deixar envolver por esse dinamismo, sem, como Jesus, nos pormos generosa e humildemente ao serviço dos outros. Celebrar a Eucaristia é pôr-se ao serviço de Deus, para que Ele nos ponha ao serviço dos irmãos. Não se trata de imolar animais, como nos sacrifícios que Amós criticava, mas de se imolar a si mesmo ao serviço de Deus e ao serviço do próximo. «Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual» (Rm 12, 1).
Admiramos a fé, a coragem e a extrema coerência de João Paulo II, que fez da sua vida uma eucaristia, um culto espiritual agradável a Deus, e ao serviço da humanidade. Mas também nos espantam tantos cristãos que, fascinados pela Eucaristia, vivem uma completa e sincera doação a Deus, no serviço às missões e aos mais carenciados dos homens. Será possível que esta sua fé, a mentalidade que dela deriva, o estilo de vida em tantas obras ao serviço dos mais pobres e marginalizados dos homens, não tenha influência sobre o desenvolvimento do mundo? Santos apóstolos, missionários, numerosos leigos cooperaram para o progresso de povos inteiros, não só como fundadores de escolas, hospitais, obras sociais, ensinando artes e ofícios, mas também dando Cristo como verdade, como amor, como perdão. É uma civilização do amor, uma civilização eucarística que, centrada na liturgia e realmente vivida, transforma o homem a partir de dentro, “penetrado por aquele sopro de vida que provém de Cristo” (RH, 18).







Dehonianos

terça-feira, 28 de junho de 2016

O QUE SIGNIFICA DIZER QUE MARIA É "CORREDENTORA" E "MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS?

A participação singular de Maria na obra da redenção não é apenas uma “opinião piedosa”, mas uma verdade ensinada repetidas vezes pelo Magistério da Igreja.


 
Falávamos há pouco sobre a relevância das aparições de Maria para a vida cristã e de como os católicos devem interpretá-las segundo a imutável e incorrigível Revelação Divina. De fato, elas não têm a missão de acrescentar ou corrigir qualquer ponto da doutrina, mas de ajudar a Igreja a testemunhar mais profundamente os mistérios de Cristo, sobretudo quando estes mistérios parecem caducar em determinados contextos sociais marcadamente hostis à religião [1].
Na mensagem de Lourdes, por exemplo, Nossa Senhora veio recordar a validade da pobreza e da piedade contra a racionalidade materialista e anticlerical do século XIX.
Em Fátima, por sua vez, a Mãe de Deus insistiu na necessidade de reparação e penitência pelas almas infiéis que, àquela altura, tripudiavam sobre o santíssimo nome de Deus com toda sorte de blasfêmias e injúrias.
É importante agora precisar mais claramente o papel de Maria na história da salvação. Tal esclarecimento nos ajudará a entender por que a Virgem Santíssima veio visitar a humanidade em tantas ocasiões, apresentado-se como meio singular para o acesso às graças de Deus. Quando Bento XVI declarou não existir "fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora", ele não estava simplesmente fazendo uso de um exagero retórico próprio da linguagem dos santos [2]. A mediação de Maria faz parte do patrimônio da fé cristã e é a partir desta verdade, tão presente nos ensinamentos dos santos como também no Magistério ordinário da Igreja, que a porção dos fiéis pode unir-se mais eficazmente contra os desvios mundanos, a fim de alcançar a coroa do Céu.
"Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo" [3]: com essas palavras, São Luís Maria Grignon de Montfort resume todo o fundamento da doutrina católica acerca da participação da Mãe de Deus na redenção da humanidade. Como em Deus não há movimento nem mudança, a sua vontade permanece sempre a mesma para todos os efeitos [4]. Ora, Ele escolheu livremente ter uma mãe segundo a carne humana e manter-se submisso aos seus cuidados durante a maior parte de sua vida terrena. Não é difícil concluir, portanto, que essa maternidade divina continua no Céu. A própria Sagrada Escritura nos confirma isso em inúmeras passagens, em especial, nos relatos de São João sobre as últimas palavras de Cristo pregado à cruz: Maria é dada como mãe para toda a humanidade (cf. Jo 19, 25-27; Gn 3, 15; Ap 12, 1-18). E é por meio da cooperação dessa mesma Mãe que nos devem chegar todas as graças da salvação, ou seja, o próprio Jesus Cristo.
Santos de todas as épocas dão crédito a essa doutrina. Falando sobre a cooperação de Nossa Senhora na obra da Redenção, Santo Irineu disse: "Obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação para si e para todo o gênero humano" [5].
Algo semelhante escreveu um discípulo de Santo Anselmo: "Deus é Senhor de todas as coisas, constituindo cada uma delas na sua própria natureza pela voz do seu poder, e Maria é Senhora de todas as coisas, reconstituindo-as na sua dignidade primitiva pela graça, que lhes mereceu" [6].
E para que não reste qualquer dúvida dessa cooperação de Maria, citemos a profecia de Simeão acerca da espada de dor com a qual Ela seria ferida (cf. Lc 2, 35). A Virgem Santíssima completou na própria carne as dores que faltaram na Cruz de Cristo, segundo o ensinamento de São Paulo (cf. Col 1, 24).
No último século, o Magistério ordinário da Igreja também falou repetidas vezes sobre o mesmo assunto.
Leão XIII, por exemplo, redigiu 13 encíclicas para ressaltar o valor da oração do Rosário. É de sua pena esta belíssima prece, na qual o grande pontífice pede que a Virgem "restitua a tranquilidade da paz aos espíritos angustiados; apresse enfim, na vida privada como na vida pública, o retorno a Jesus Cristo": "Que, no seu poder, a Virgem Mãe, que outrora cooperou por seu amor no nascimento dos fiéis na Igreja, seja ainda agora o instrumento e a guardiã da nossa salvação" [7].
Não nos esqueçamos ainda das piedosas exortações de Pio XII. O Papa que, conforme contam algumas testemunhas, teria visto o milagre do sol nos jardins do Vaticano, ensinava: "Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo 'para lhe ser associada na redenção do gênero humano'" [8].
Palavras semelhantes são encontradas também nas cartas de Pio X, Bento XV, Pio XI, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II.
Com tantos papas escrevendo sobre esse assunto, já não se pode dizer ingenuamente que a "mediação universal" de Maria e o seu papel como "corredentora" sejam meras "opiniões piedosas". Embora a Igreja ainda não tenha se manifestado solenemente a esse respeito, por meio de uma declaração ex cathedra, a sua notável presença nos documentos comuns dos Santos Padres leva-nos àquela obediência da fé, que também se aplica ao que propõe o Magistério ordinário e universal, isto é, "o ensino comum e universal de uma determinada doutrina pelo papa e por todos os bispos espalhados pelo mundo" [9].
Aliás, o próprio Concílio Vaticano II referendou tudo isso que dissemos até agora:
Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao Céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto se entende de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo.
Efetivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte.

Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e salvador. [10]
Demonstrado o fundamento de nossa fé na cooperação de Maria — cooperação esta que se manisfestou "de modo singular, com sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural" [11] —, tornam-se mais lúcidas as suas aparições, cujas mensagens resumem-se a uma maior fidelidade à religião cristã, ou seja, ao chamado à santidade.
Maria nunca quer nada para Ela. Ao contrário, a Virgem sempre direciona-nos para o Seu Filho, a fim de que deixemos de ofendê-lO com nossos pecados.
Maria fala contra a indiferença e a tibieza dos corações que já não dão espaço para Jesus.
Mais: a Mãe de Deus escolhe almas inocentes para livremente sofrerem pela conversão dos pobres pecadores. Maria, por meio da consagração que lhe fazem, instrui e protege Seus filhos na batalha contra a serpente maligna, forjando-os no mesmo fogo no qual quis ser forjado o próprio Filho de Deus. Portanto, não há como negar as palavras de São Luís Maria Grignon de Montfort: "Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio. Mas é tão o contrário [...], esta devoção só nos é necessária para encontrar Jesus Cristo, amá-lO ternamente e fielmente servi-lO" [12].
Maria é, realmente, corredentora e medianeira de todas as graças. 










Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 67.
  2. Papa Bento XVI, Homilia da Santa Missa de Canonização de Frei Galvão (11 de maio de 2007), n. 5.
  3. São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 1.
  4. Cf. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, q. 2, a. 3.
  5. Santo Irineu, Adversus Haereses, III, 22, 4 (PG 7, 959).
  6. Eadmero, De excellentia Virginis Mariae, 11 (PL 159, 308).
  7. Breve de 8 de setembro de 1901: Acta Leonis XIII, vol. 21, pp. 159-160.
  8. Papa Pio XII, Carta Encíclica Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), n. 35.
  9. MARÍN, Antônio Royo. A fé da Igreja: em que deve crer o cristão hoje (trad. de Guilherme Ferreira Araújo). Campinas: Ecclesiae, Edições Cristo Rei, 2015, p. 69.
  10. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 65.
  11. Ibid., n. 61.
  12. São Luís Maria Grignion de Montfort, op. cit, n. 62.

LITURGIA DIÁRIA - JESUS ACALMA A TEMPESTADE

 
1a Leitura - Amós 3,1-8;4,11-12
Leitura da profecia de Amós.
3 1 Ouvi, israelitas, o oráculo que o Senhor pronunciou contra vós, contra todo o povo, disse ele, que tirei do Egito.
2 Dentre todas as raças da terra só a vós conheço; por isso vos castigarei por todas as vossas iniqüidades.
3 Porventura caminharão juntos dois homens, se não tiverem chegado previamente a um acordo?
4 Rugirá por acaso o leão na floresta, sem que tenha achado alguma presa? Gritará o leãozinho no covil, se não tiver apanhado alguma coisa?
5 Cairá o pardal no laço posto no solo, se a armadilha não estiver armada? Levantar-se-á da terra o laço sem ter apanhado alguma coisa?
6 Tocará o alarme na cidade sem que o povo se assuste? Virá uma calamidade sobre uma cidade sem que o Senhor a tenha disposto?
7 (Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar seu segredo aos profetas, seus servos.)
8 O leão ruge, quem não temerá? O Senhor Javé fala: quem não profetizará?
11 Causei no meio de vós uma confusão semelhante ao cataclismo divino de Sodoma e de Gomorra; ficastes como um tição que se tira do fogo, mas não vos voltastes para mim - oráculo do Senhor.
12 Por isso, Israel, eis o que te infligirei; e porque te farei isso, prepara-te, Israel, para sair ao encontro de teu Deus!
Palavra do Senhor.


Salmo - 5
Na vossa justiça guiai-me, Senhor!
Não sois um Deus a quem agrade a iniqüidade,
não pode o mau morar convosco;
nem os ímpios poderão permanecer
perante os vossos olhos.

Detestais o que pratica a iniqüidade
e destruís o mentiroso.
Ó Senhor, abominais o sanguinário,
o perverso e enganador.

Eu, porém, por vossa graça generosa,
posso entrar em vossa casa.
E, voltado reverente ao vosso templo,
com respeito vos adoro.


Evangelho - Mateus 8,23-27
Aleluia, aleluia, aleluia.
No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra (Sl 129,5).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
8 23 Jesus subiu a uma barca com seus discípulos.
24 De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão grande, que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia.
25 Os discípulos achegaram-se a ele e o acordaram, dizendo: “Senhor, salva-nos, nós perecemos!”
26 E Jesus perguntou: “Por que este medo, gente de pouca fé?” Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria.
27 Admirados, diziam: “Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?”
Palavra da Salvação.

 Reflexão

De modo muito estilizado, Mateus refere o episódio da tempestade acalmada. O propósito de Mateus não é tratar o acontecimento em si, mas indicar o seu significado. A Igreja é uma barca em tormenta, onde está Jesus e os discípulos. «Os discípulos seguiram-no», diz-nos o texto (v. 23). Esta palavra traduz, para Mateus, o aspecto essencial do discipulado: «seguir» Jesus. De facto, o verbo «seguir» é utilizado unicamente quando se trata de Jesus. Indica a união do discípulo com o Jesus da história, a participação na sua vida, a entrada no Reino através da pertença a Cristo pela obediência e pela confiança. Dizer a Jesus: «Desperta, Senhor, porque dormes?» (Sl 44, 24) e «Senhor, salva-nos, que perecemos!», significa reencontrar-se como crentes, como fiéis, como discípulos, e encontrar Jesus como Senhor e Cristo. Na sua presença não há tempestade, não há paixão, não há morte que resistam. A sua autoridade e o seu poder restauram a ordem da graça. Os discípulos nem sempre correspondem com fé e confiança ao senhorio de Jesus. O sono de Jesus representa o drama da morte do Filho do homem, que desafia a Igreja à fé e à serena confiança no Pai como Aquele que «se fez obediente até à morte e morte de cruz» (Fl 2, 8).

As perguntas, que se repetem, no livro de Amós, levam idealmente da sabedoria à profecia, da observação atenta da realidade natural à emersão de uma palavra e de uma acção que lhe manifestam o sentido e a verdade. No fim, a profecia torna-se uma necessidade incontornável: «O Senhor Deus fala: quem não profetizará?» (v. 8).
Amós lembra aos israelitas a situação especial de que gozam diante de Deus: «De todas as nações da terra, só a vós conheci» (v. 2). Mas o profeta também tira consequências dessa situação: «Por isso vos castigarei, por todas as vossas iniquidades» (v. 2). Ser povo de Deus é um privilégio que há-de estimular a correspondência adequada ao dom. Não pode ser pretexto para a injustiça, para fazer o que apetece, julgando-se impunes. Jesus dirá algo que nos ajuda a compreender esta palavra de Amós: «a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido» (Lc 12, 48).
Isto pode parecer-nos contraditório. Um privilégio torna-se desvantagem? Deus, em vez de indulgente e compreensivo com o seu povo, pode mostrar-se intransigente? Na verdade, Deus apresentou-se, desde o princípio, como «um Deus zeloso» (Ex 20, 5; Dt 4, 24; 5, 9), que não admite infidelidades ao povo, que recebeu como esposa, e que pune severamente a «culpa» (Ex 20, 5; Dt 5, 9). Mesmo quando perdoa, não deixa de punir (Ex 34, 7). Mas não há contradição entre severidade e amor. A severidade mostra a autenticidade e a profundidade do amor. Deus faz o seu povo descontar as próprias infidelidades, porque o ama, porque o quer libertar do mal, porque o quer purificar. A severidade divina é provocada pelo amor e em vista do amor. Deus purifica o seu povo para tornar possível uma comunhão mais estreita com ele: «Tu, Senhor, pouco a pouco corriges os que caem, os admoestas e lhes recordas o seu pecado, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor» (Sab 12, 2). Toda a provação há-de ser acolhida como ocasião para regressar a Deus. Em toda a pena, merecida ou não, em todo o sofrimento, em toda a provação, somos tentados a revoltar-nos, a endurecer o coração, a afastar-nos de Deus. Mas, do sofrimento e da provação, podem surgir graças preciosas. O Senhor convida-nos a aprofundar a nossa relação com Ele.
Foi o que sucedeu com os Apóstolos, quando Jesus, em plena tempestade, dormia no barco. Deram-se conta da sua fragilidade e gritaram pelo Mestre para que os ajudasse. Jesus acalmou a tempestade falando imperiosamente aos ventos e ao mar. Perante tal facto, os discípulos interrogaram-se sobre a verdadeira identidade de Jesus: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» (v. 27). E aprofundaram a sua fé e a sua relação com o Senhor.
O tempo do sofrimento, tanto o das provações morais e espirituais, como o da doença e da velhice, há-de ser vivido como tempo de purificação, como tempo preparatório de mais íntima união com o Senhor, como tempo de «eminente e misteriosa comunhão» na oblação de sofrimento e de amor de Cristo. Pensemos na Agonia, na Paixão e na Morte. E, então, além de purificação, as nossas provações e sofrimentos, serão tempo de disponibilidade pura, de pura oblação.







Dehonianos

segunda-feira, 27 de junho de 2016

SÓ EM DEUS SE ACHA A VERDADEIRA PAZ

 

Venit Iesus, et stetit in medio, et dixit eis: Pax vobis
“Veio Jesus, e pôs-se no meio e disse-lhes: A paz seja convosco” (Jo. 20,9).
Assim é: só em Deus se acha a verdadeira paz; porque, tendo Deus criado o homem para si, o Bem infinito, só Ele pode fazê-lo contente. Quem quiser gozar esta paz, deve repelir de seu coração tudo que não seja Deus, que feche as portas dos sentidos a todas as criaturas e viva como que morto aos afetos terrestres. É isto exatamente o que o Senhor quis dar a entender aos apóstolos, quando, aparecendo para lhes anunciar a paz, quis ambas às vezes entrar aonde estavam os apóstolos, estando as portas fechadas. 

Refere São João que, achando-se os apóstolos juntos numa casa, Jesus Cristo ressuscitado entrou ali, posto que as portas estivessem fechadas, e pondo-se no meio, disse-lhes duas vezes: A paz seja convosco. Repetiu as mesmas palavras oito dias depois, aparecendo-lhes mais uma vez, estando fechadas as portas. Pax vobis - “A paz seja convosco”. - Com estas palavras quis Jesus Cristo dar-nos a entender “que Ele é a nossa paz; Ele que dos dois fez um, desfazendo em sua carne, com o sacrifício de sua vida, o inconsistente muro de separação, as inimizades”. (1)
Com efeito: só em Deus se acha a verdadeira paz; porque, tendo Deus criado o homem para si mesmo, o Bem infinito, só Ele pode plenamente satisfazê-lo. Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui (2) - “Deleita-te no Senhor, e te outorgará as petições de teu coração”. Quando alguém acha as suas delícias só em Deus e não busca coisa alguma fora d'Ele, Deus cuidará em satisfazer-lhe todos os desejos do coração.
Insensatos portanto são aqueles que dizem: Bem-aventurado o que pode gastar dinheiro à vontade! Que pode mandar nos outros! Que pode gozar os prazeres que deseja. Loucura! Bem-aventurado é somente o que ama a Deus, o que diz deveras que Deus só lhe basta. A experiência demonstra bem patentemente, que muitos dos que o mundo chama felizes, por grandes que sejam as suas riquezas e altas as suas dignidades, todavia levam vida infeliz, nunca estão contentes, jamais gozam um dia de verdadeira paz. Ao contrário, tantos bons religiosos que vivem num deserto ou numa gruta, sujeitos a enfermidades, à fome, ao frio, estão contentes e exultam de alegria. E por quê? Porque eles só se ocupam com Deus, Deus os consola. Ah! A paz que o Senhor faz provar a quem O ama, está acima de todas as delícias que o mundo pode dar! Pax Dei quae exsuperat omnem sensum (3).
Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus (4) - “Provai e vede quão suave é o Senhor”. Ah, mundanos! Exclama o Profeta, porque desprezais a vida dos santos, sem que a tenhais experimentado? Experimentai-a uma só vez: afastai-vos do mundo, dai-vos a Deus, e vereis quanto melhor sabe Ele consolar-vos do que todas as grandezas e delícias que andais procurando para vossa perdição. - Verdade é que também os santos sofrem na vida presente grandes tribulações; mas com a resignação à vontade de Deus, nunca perdem a paz. Numa palavra, eles estão acima das adversidades e vicissitudes deste mundo, e por isso vivem sempre numa tranquilidade imperturbável.
Mas quem quiser estar sempre unido com Deus e gozar continua paz, deve banir do coração tudo que não seja Deus, guardar as portas dos sentidos fechadas a todas as criaturas e viver como que morto aos afetos terrestres. É exatamente o que o Senhor quis dar a entender, quando, na aparição aos apóstolos, entrou duas vezes, como narra o Evangelho, estando fechadas as portas: cum fores essent clausae. “Em sentido místico”, explica Santo Tomás, “devemos aprender disso que Jesus Cristo não entra em nossas almas enquanto não tivermos fechado as portas dos sentidos.
Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, ajudai-me a romper todos os laços que me prendem ao mundo. Fazei com que eu não pense em outra coisa senão em Vos agradar. Felizes daqueles a quem só Vós bastais! Senhor, dai-me a graça de não buscar nada fora de Vós e de não desejar senão o vosso amor. Por vosso amor renuncio também as consolações espirituais. Nada mais desejo senão cumprir a vossa vontade e dar-Vos gosto. Fazei, ó Deus todo poderoso, com que havendo concluído a celebração das festas pascais, pela vossa graça conserve, na vida e costumes, o espírito das mesmas. (5) - Ó Mãe de Deus, Maria, recomendai-me a vosso Filho, que não vos nega nada. (*II 301.)
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Eph. 2, 14.
2. Ps. 36, 4.
3. Phil. 4, 7.
4. Ps. 33, 9.
5. Or. Dom. curr.

Santo Afonso

(Afonso Maria de Ligório - Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 19-21.)

LITURGIA DIÁRIA - SEGUIR JESUS É VIVER CONFORME SEU EVANGELHO

1a Leitura - Amós 2,6-10.13-16
Leitura da profecia de Amós.
2 6 Oráculo do Senhor: “Por causa do triplo e do quádruplo crime de Israel, não mudarei meu decreto. Porque vendem o justo por dinheiro, e o pobre por um par de sandálias,
7 porque esmagam no pó da terra a cabeça do pobre, e transviam os pequenos, porque o filho e o pai dormem com a mesma jovem, o que é uma profanação do meu santo nome,
8 porque se estendem ao pé de cada altar sobre vestes recebidas em penhor, e bebem no templo do seu Deus o vinho dos que foram multados.
9 E, todavia, fui eu que exterminei diante deles os amorreus, cuja estatura se igualava à dos cedros, e que eram fortes como os carvalhos; destruí seus frutos de cima e suas riquezas de baixo;
10 fui eu que vos tirei do Egito e vos conduzi, através do deserto, durante quarenta anos, para vos dar a posse da terra dos amorreus;
13 Pois bem! Eis que eu vos vou fazer ranger como um carro carregado de feno.
14 Não haverá mais fuga possível para o homem ágil, o forte não encontrará mais sua força, o valente não salvará sua vida,
15 o arqueiro não poderá resistir, nem o homem de pés ligeiros poderá escapar, nem o cavaleiro salvará sua vida,
16 e o mais corajoso entre os valentes fugirá nu, naquele dia” - oráculo do Senhor.
Palavra do Senhor.


Salmo - 49/50
Entendei isto, todos vós que esqueceis o Senhor Deus!

“Como ousas repetir os meus preceitos

e trazer minha aliança em tua boca?

tu que odiaste minhas leis e meus conselhos

e deste as costas às palavras dos meus lábios!

Quando vias um ladrão, tu o seguias

e te juntavas ao convívio dos adúlteros.

Tua boca se abriu para a maldade

e tua língua maquinava a falsidade.

Assentado, difamavas teu irmão

e ao filho de tua mãe injuriavas.

Diante disso que fizeste, eu calarei?

Acaso pensar que eu sou igual a ti?

É disso que te acuso e repreendo

e manifesto essas coisas aos teus olhos.

Entendei isto, todos vós que esqueceis Deus,

para que eu não arrebate a vossa vida

sem que haja mais ninguém para salvar-vos!

Que me oferece um sacrifício de louvor,

este, sim, é que me honra de verdade.

A todo homem que procede retamente

eu mostrarei a salvação que vem de Deus”.


Evangelho - Mateus 8,18-22
Aleluia, aleluia, aleluia.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: Não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
8 18 Certo dia, vendo-se no meio de grande multidão, ordenou Jesus que o levassem para a outra margem do lago.
19 Nisto aproximou-se dele um escriba e lhe disse: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores”.
20 Respondeu Jesus: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”.
21 Outra vez um dos seus discípulos lhe disse: “Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai”.
22 Jesus, porém, lhe respondeu: “Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos”.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

Nós também como os mestres da lei, às vezes queremos seguir a Jesus, para adquirir mais poder, ou então porque chamaremos mais a atenção das pessoas; ou então, porque já lemos toda a Bíblia e podemos dar um show de conhecimento ou por outras razões supérfluas. Na verdade, nem percebemos a realidade da nossa pretensão! Por isso, Jesus nos abre os olhos para que observemos as “nossas promessas impetuosas” e nos esclarece que Ele nos chama, mas não nos engana. Quem quiser segui-Lo terá que passar pelas dificuldades próprias da mentalidade evangélica.  O seguimento de Cristo nos tira das nossas raízes e nos desestrutura.  Somos obrigados (as) a renunciar à nossa existência pacata, medíocre e acomodada. Para seguir a Jesus é preciso, também, não ter casa, não ter abrigo nem mordomia, isto é, não ter raízes em lugar nenhum. O discípulo que pediu a Jesus para primeiro sepultar o pai era alguém como nós que esperamos um tempo propício para nos desprender dos nossos apegos, dos nossos projetos. Para nós também Jesus diz, hoje: “segue-me e deixa que os mortos sepultem os seus mortos”. Enterrar os mortos significa resolver problemas e dar definições à sua vida apegando-se ao que é seu e de sua responsabilidade. Quem espera que tudo esteja resolvido na sua vida para depois seguir Jesus, irá viver sempre a omissão. Seguir Jesus é viver conforme o Seu Evangelho, é viver o amor, é praticar o perdão, é não fazer questão por coisas que não têm valor diante de Deus. Por isso, não podemos nos acomodar esperando novas oportunidades. É tempo de amar e construir aqui na terra o reino dos céus, para que não sejamos também chamados de “mortos”.
- Você também se propõe a seguir a Jesus aonde quer que Ele vá? - Qual a sua maior dificuldade para viver o Evangelho? - Você é uma pessoa muito apegada às pessoas da sua família e aos seus bens? - Você percebe que tem que renunciar a alguma coisa para seguir Jesus? – Você “acha bonito” seguir Jesus? 







Helena Serpa


domingo, 26 de junho de 2016

13º DOMINGO DO TEMPO COMUM - O FILHO DO HOMEM NÃO TEM ONDE REPOUSAR A CABEÇA.

A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do “Reino”.
A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para atuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu (discípulo de Elias) é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projetos que Deus tem para ele.
O Evangelho apresenta o “caminho do discípulo” como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao “Reino”. Sugere, também, que esse “caminho” deve ser percorrido no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
A segunda leitura diz ao “discípulo” que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.
LEITURA I – 1 Re 19,16b.19-21
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias,
disse o Senhor a Elias:
«Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola,
como profeta em teu lugar».
Elias pôs-se a caminho
e encontrou Eliseu, filho de Safat,
que andava a lavrar com doze juntas de bois
e guiava a décima segunda.
Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa.
Então Eliseu abandonou os bois,
correu atrás de Elias e disse-lhe:
«Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe;
depois irei contigo».
Elias respondeu:
«Vai e volta,
porque eu já fiz o que devia».
Eliseu afastou-se,
tomou uma junta de bois e matou-a;
com a madeira do arado assou a carne,
que deu a comer à sua gente.
Depois levantou-se e seguiu Elias,
ficando ao seu serviço.

AMBIENTE
Esta passagem do Primeiro Livro dos Reis leva-nos até ao séc. IX a.C. Estamos na época dos dois reinos divididos.
Os profetas Elias e Eliseu, aqui referenciados, exerceram o seu ministério profético no reino do norte (Israel), no tempo dos reis Acab e Ocozias (Elias), Jorão e Jehú (Eliseu). É uma época de grande desnorte, em termos religiosos: a fé jahwista é posta em causa pela preponderância que os deuses estrangeiros assumem na cultura religiosa de Israel.
Uma grande parte do ministério de Elias desenrola-se durante o reinado de Acab (874-853 a.C.). O rei – influenciado por Jezabel, a sua esposa fenícia – erige altares a Baal e Astarte e prostra-se diante das estátuas desses deuses. Estamos diante de uma tentativa de abrir Israel ao intercâmbio com outras culturas; mas essas razões políticas não são entendidas nem aceites pelos círculos religiosos de Israel. Nessa época, Elias torna-se o grande campeão da fé jahwista (cf. 1 Re 18 – o episódio do “duelo” religioso entre Elias e os profetas de Baal, no monte Carmelo), defendendo a Lei em todas as suas vertentes (inclusive na vertente social – cf. 1 Re 21 – o célebre episódio da vinha de Nabot), contra uma classe dirigente que subvertia a seu bel-prazer as leis e os mandamentos de Jahwéh.
A luta de Elias no sentido de preservar os valores fundamentais da fé jahwista será continuada nos reinados seguintes por um dos seus discípulos – Eliseu. A leitura que nos é proposta apresenta-nos, precisamente, o chamamento de Eliseu.

MENSAGEM
O texto propõe-nos uma reflexão sobre o chamamento de Deus e a resposta do homem.
O quadro inicial da nossa leitura situa-nos no Horeb, a montanha da revelação de Deus ao seu Povo (cf. 1 Re 19,8). Porquê no Horeb? Porque aí, no lugar onde começou a Aliança, Deus vai definir os instrumentos do restabelecimento da Aliança: Elias é convidado a ungir Eliseu como profeta; ele será (juntamente com Jehú, futuro rei de Israel e de Hazael, futuro rei de Damasco) o instrumento de Deus na aniquilação de Acab, o rei infiel a Jahwéh e à Aliança. Trata-se da única vez que o Antigo Testamento refere a “unção” de um profeta.
Após a apresentação inicial, o autor deuteronomista desenha o quadro do chamamento de Eliseu. Ele está no campo, com os bois, a lavrar a terra quando Elias o encontra e o convida a ser profeta: o profeta não é alguém que, repentinamente, cai do céu e invade de forma anormal o mundo dos homens; também não é alguém que se torna profeta porque não serve para outra coisa; mas é sempre um homem normal, com uma vida normal, a quem Deus chama, indo ao seu encontro e falando-lhe na normalidade do trabalho diário, para lhe apresentar o seu desafio.
Elias lança sobre Eliseu o seu “manto”. Este gesto tem de ser entendido à luz da crença de que as roupas ou os objetos pertencentes a uma pessoa representavam essa pessoa e continham qualquer coisa do seu poder: dessa forma, Elias comunica a Eliseu o seu poder e o seu espírito proféticos (cf. 2 Re 2,13-14; 4,29-31; Lc 8,44; Act 19,12).
Temos, depois, a resposta de Eliseu ao desafio que Deus lhe lança através do gesto de Elias: imolou uma junta de bois, queimou o arado, assou a carne dos bois e deu-a a comer à sua família; depois, seguiu Elias e ficou ao seu serviço.
O gesto de Eliseu significa, provavelmente, o abandono da vida antiga, a renúncia à antiga profissão, a ruptura com a própria família e a entrega total à missão profética. Exprime a radicalidade da sua entrega ao serviço de Deus.

ATUALIZAÇÃO
Ter em conta, para a reflexão, os seguintes dados:
A história da salvação não é a história de um Deus que intervém no mundo e na vida dos homens de forma espalhafatosa, prepotente, dominadora; mas é uma história de um Deus que, discretamente, sem se impor nem dar espetáculo, age no mundo e concretiza os seus planos de salvação através dos homens que Ele chama. É como se Ele nos dissesse como fazer as coisas, mas respeitasse o nosso caminho e Se escondesse por detrás de nós. É necessário ter em conta que somos os instrumentos de Deus para construir a história, até que o nosso mundo chegue a ser esse “mundo bom” que Deus sonhou. Aceitamos este desafio?
O relato da “vocação” de Eliseu não é o relato de uma situação excepcional, que só acontece a alguns privilegiados, eleitos entre todos por Deus para uma missão no mundo; mas é a história de cada um de nós e dos apelos que Deus nos faz, no sentido de nos disponibilizarmos para a missão que Ele nos quer confiar, quer no mundo, quer na nossa comunidade cristã. Estou atento aos apelos de Deus? Tenho disponibilidade, generosidade e entusiasmo para me empenhar nas tarefas a que Ele me chama?
O chamamento de Deus chega a Eliseu através da acção de Elias… É preciso ter em conta que, muitas vezes, o desafio de Deus nos chega através da palavra ou da interpelação de um irmão; e que, muitas vezes, é preciso contar com o apoio de alguém para discernir o caminho e ser capaz de enfrentar os desafios da vocação.
Finalmente, somos chamados a contemplar a disponibilidade de Eliseu e a forma radical como ele acolheu o desafio de Deus. A referência à morte dos bois, ao desmantelamento do arado (cuja madeira serviu para assar a carne dos animais) e ao banquete de despedida oferecido à família significa que o profeta resolveu “cortar todas as amarras”, pois queria dar-se, radicalmente, ao projecto de Deus. É esse corte radical com o passado e essa entrega definitiva à missão que nos questiona e interpela.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 15 (16)
Refrão: O Senhor é a minha herança.
Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio.
Diga ao Senhor: «Vós sois o meu Deus».
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino.
Bendigo o Senhor por me ter aconselhado,
até de noite me inspira interiormente.
O Senhor está sempre na minha presença,
com Ele a meu lado não vacilarei.
Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta
e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos,
nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção.
Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
alegria plena na vossa presença,
delícias eternas à vossa direita.

LEITURA II – Gal 5,1.13-18
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos:
Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou.
Portanto, permanecei firmes
e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão.
Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade.
Contudo, não abuseis da liberdade
como pretexto para viverdes segundo a carne;
mas, pela caridade,
colocai-vos ao serviço uns dos outros,
porque toda a Lei se resume nesta palavra:
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo».
Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente,
tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros.
Por isso vos digo:
Deixai-vos conduzir pelo Espírito
e não satisfareis os desejos da carne.
Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito,
e o Espírito desejos contrários aos da carne.
São dois princípios antagônicos
e por isso não fazeis o que quereis.
Mas se vos deixais guiar pelo Espírito,
não estais sujeitos à Lei de Moisés.

AMBIENTE
Continuamos a ler a Carta aos Gálatas. Já sabemos qual é o problema fundamental aí abordado: os Gálatas estão a ser perturbados por esses “judaízantes” para quem os rituais da Lei de Moisés também são necessários para chegar à vida em plenitude (“salvação”); e Paulo – para quem “Cristo basta” e para quem as obras da Lei já não dizem nada – procura fazer com que os Gálatas não se sujeitem mais à escravidão, nomeadamente à escravidão dos ritos e das leis.
O texto que nos é proposto aparece na parte final da Carta. É o início de uma reflexão sobre a verdadeira liberdade, que é fruto do Espírito (cf. Gal 5,1-6,10).

MENSAGEM
As palavras de Paulo são um convite veemente à liberdade. Logo no início deste texto (vers. 1), ele avisa os Gálatas que foi para a liberdade que Cristo os libertou (a repetição – libertar para a liberdade – é, sem dúvida, um hebraísmo destinado a dar ao verbo “libertar” um sentido mais intenso) e que não convém voltar a cair no jugo da escravidão (mais à frente – vers. 2-4 – ele identifica essa escravidão com a Lei e com a circuncisão).
Os vers. 13-18 explicam em que consiste a liberdade para o cristão. Trata-se da faculdade de escolher entre duas coisas distintas e opostas? Não. Trata-se de uma espécie de independência ético-moral, em virtude da qual cada um pode fazer o que lhe apetece, sem barreiras de qualquer espécie? Também não.
Para Paulo, a verdadeira liberdade consiste em viver no amor (vers. 13-14). O que nos escraviza, nos limita e nos impede de alcançar a vida em plenitude (“salvação”) é o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência; mas superar esse fechamento em nós próprios e fazer da nossa vida um dom de amor torna-nos verdadeiramente livres. Só é autenticamente livre aquele que se libertou de si próprio e vive para se dar aos outros.
Como é que esta “liberdade” (a capacidade de amar, de dar a vida) nasce em nós? Ela nasce da vida que Cristo nos dá: pela adesão a Cristo, gera-se em cada pessoa um dinamismo interior que a identifica com Cristo e lhe dá uma capacidade infinita de amar, de superar o egoísmo, o orgulho e os limites – ou seja, com uma capacidade infinita de viver em liberdade. É o Espírito que alimenta, dia a dia, essa vida de liberdade (ou de amor) que se gerou em nós, a partir da nossa adesão a Cristo (vers. 16).
Viver na escravidão é continuar a viver uma vida centrada em si próprio (Paulo enumera, mais à frente, as obras de quem é escravo – cf. Gal 5,19-21); viver na liberdade (“segundo o Espírito”) é sair de si e fazer da sua vida um dom, uma partilha (Paulo enumera, mais à frente, as obras daquele que é livre e vive no Espírito – cf. Gal 5,22-23).

ATUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, os seguintes elementos:
Os homens do nosso tempo têm em grande apreço esse valor chamado “liberdade”; no entanto têm, frequentemente, uma perspectiva demasiado egoísta deste valor fundamental. Quando a “liberdade” se define a partir do “eu”, identifica-se com “libertinagem”: é a capacidade de “eu” fazer o que quero; é a capacidade de “eu” poder escolher; é a capacidade de “eu” poder tomar as minhas decisões sem que ninguém me impeça… Esta liberdade não gera, tantas vezes, egoísmo, isolamento, orgulho, auto-suficiência e, portanto, escravidão?
Para Paulo, só se é verdadeiramente livre quando se ama. Aí, eu não me agarro a nada do que é meu, deixo de viver obcecado comigo e com os meus interesses e estou sempre disponível – totalmente disponível – para me partilhar com os meus irmãos. É esta experiência de liberdade que fazem hoje tantas pessoas que não guardam a própria vida para si próprias, mas fazem dela uma oferta de amor aos irmãos mais necessitados. Como dar este testemunho e passar esta mensagem aos homens do nosso tempo, sempre obcecados com a verdadeira liberdade? Como explicar que só o amor nos faz totalmente livres?
Falar de uma comunidade (cristã ou religiosa) formada por pessoas livres em Cristo implica falar de uma comunidade voltada para o amor, para a partilha, para as necessidades e carências dos irmãos que estão à sua volta. É isso que realmente acontece com as nossas comunidades? Damos este testemunho de liberdade no dom da vida aos irmãos que nos rodeiam? As nossas comunidades são comunidades de pessoas livres que vivem no amor e na doação, ou comunidades de escravos, presos aos seus interesses pessoais e egoístas, que se magoam e ofendem por coisas sem importância, dominados por interesses mesquinhos e capazes de gestos sem sentido de orgulho e prepotência?

ALELUIA – 1 Sam. 3,9; Jo. 6,68c
Aleluia. Aleluia.
Falai, Senhor, que o vosso servo escuta.
Vós tendes palavras de vida eterna.

EVANGELHO – Lc. 9,51-62
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente.
Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos,
a fim de Lhe prepararem hospedagem.
Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém.
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus:
«Senhor,
queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?»
Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os.
E seguiram para outra povoação.
Pelo caminho, alguém disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores».
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas
e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça».
Depois disse a outro: «Segue-Me».
Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai».
Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus».
Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família».
Jesus respondeu-lhe:«Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».

AMBIENTE
Aqui começa, precisamente, a segunda parte do Evangelho segundo Lucas. Até agora, Lucas situou Jesus na Galileia (1ª parte); mas, a partir de 9,51, Lucas põe Jesus a caminhar decididamente para Jerusalém. A “caminhada” que Jesus aqui inicia com os discípulos é mais teológica do que geográfica: não se trata tanto de fazer um diário da viagem ou de fazer a lista dos lugares por onde Jesus vai passar até chegar a Jerusalém; trata-se, sobretudo, de apresentar um itinerário espiritual, ao longo do qual Jesus vai mostrando aos discípulos os valores do “Reino” e os vai presenteando com a plenitude da revelação de Deus. Todo este percurso que aqui se inicia converge para a cruz: ela vai trazer a revelação suprema que Jesus quer apresentar aos discípulos e nela vai irromper a salvação definitiva. Os discípulos são exortados a seguir este “caminho”, para se identificarem plenamente com Jesus… Lucas propõe aqui à sua comunidade o itinerário que os autênticos crentes devem percorrer.

MENSAGEM
Lucas começa por apresentar as “exigências” do “caminho”. O nosso texto apresenta, nitidamente, duas partes, dois desenvolvimentos.
Na primeira parte (vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da hostilidade entre judeus e samaritanos. Trata-se de um dado histórico: a dificuldade de convivência entre os dois grupos era tradicional; os peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas de Israel procuravam evitar a passagem pela Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar” (junto da orla costeira), ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar “maus encontros”.
A primeira lição de Jesus ao longo desta “caminhada” vai para a atitude que os discípulos devem assumir face ao “ódio” do mundo. Que fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face à proposta de Jesus? Tiago e João pretendem uma resposta agressiva, “musculada”, que retribua na mesma moeda, face à hostilidade manifestada pelos samaritanos (a referência ao “fogo do céu” leva-nos ao castigo que Elias infligiu aos seus adversários – cf. 2 Re 1,10-12); mas Jesus avisa-os que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da força, pela resposta violenta, pela prepotência (no seu horizonte próximo continua a estar apenas a cruz e a entrega da vida por amor: é no dom da vida e não na prepotência e na morte que se realizará a sua missão). Isto é algo que os discípulos nunca devem esquecer, se estão interessados em percorrer o “caminho” de Jesus.
Na segunda parte (vers. 57-62), Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse “caminho” que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação. Que condições são essas?
O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para o discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material.
O segundo diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se desses deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância (o dever de sepultar os pais é um dever fundamental no judaísmo), impedem uma resposta imediata e radical ao Reino.
O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se for necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada – nem a própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.
Não podemos ver estas exigências como normativas: noutras circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais (cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5)… O que estes ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do Reino.

ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes elementos:
A nós, discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no “caminho” de Jerusalém, nesse “caminho” que conduz à salvação e à vida plena. Trata-se de um “caminho” que implica a renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de nós próprios, com o amor até às últimas consequências. Aceitamos ser discípulos, isto é, embarcar com Jesus no “caminho de Jerusalém”?
Jesus recusa, liminarmente, responder à oposição e à hostilidade do mundo com qualquer atitude de violência, de agressividade, de vingança. No entanto, a Igreja de Jesus, na sua caminhada histórica, tem trilhado caminhos de violência, de fanatismo, de intolerância (as cruzadas, as conversões à força, os julgamentos da “santa” Inquisição, as exigências que criam em tantas consciências escravidão e sofrimento…). Diante disto, resta-nos reconhecer que, infelizmente, nem sempre vivemos na fidelidade aos caminhos de Jesus e pedir desculpa aos nossos irmãos pela nossa falta de amor. É preciso, também, continuar a anunciar o Evangelho com fidelidade, com firmeza e com coragem, mas no respeito absoluto por aqueles que querem seguir outros caminhos e fazer outras opções.
O “caminho do discípulo” é um caminho exigente, que implica um dom total ao “Reino”. Quem quiser seguir Jesus, não pode deter-se a pensar nas vantagens ou desvantagens materiais que isso lhe traz, nem nos interesses que deixou para trás, nem nas pessoas a quem tem de dizer adeus… O que é que, na nossa vida quotidiana, ainda nos impede de concretizar um compromisso total com o “Reino” e com esse caminho do dom da vida e do amor total?
 
 
 
 
 
 
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho